Pular para conteúdo

fictions

Bar de finados

Na minha rua, uma rua sem saída, havia um bar que só abria uma vez por ano, no dia de finados. Funcionava em um casarão colonial meio carcomido e meu avô dizia que era tão antigo quanto a cidade. Quando eu era pequeno, não se podia passar por lá naquele dia. Iam alguns adultos, gente séria e taciturna, mas criança não podia nem dentro nem na porta.

Querida Júlia

Com as mãos tremulas, ela apanhou sobre a cômoda o envelope pardo marcado com o seu nome. O coração já pressentia o conteúdo, mas essa antecipação não foi suficiente para fazê-la desistir de lê-lo, para destruí-lo e fugir daquela verdade incomoda. Não, o desejo pelo o último contato com o marido era maior.

Você não viu nada

Eventos exóticos, é assim que são chamados. Obviamente esse era um termo emprestado de um protocolo da inteligência militar americana. Não existiam planos, ou algo nessa linha, para lidar com esse tipo de coisa aqui. Nosso exército era, e ainda é, basicamente decorativo. Nossa agência de inteligência até hoje é uma piada.

Baccarat

"É um baccarat" Ele disse com os olhos brilhando e um sorriso bobo. Começou a tagarelar sobre a história da peça, de como foi um dos primeiros do tipo e pertenceu a Napoleão III. Afirmou não ter ideia de como aquilo tinha ido parar numa coleção particular, e mais um monte de coisa enquanto saltitava pela sala como uma criança.

E o salário, meu deus, o salário! Era uma fortuna! Daria pra gente financiar um apartamento. Eu até estranhei aquele dinheiro todo para trabalhar só vinte horas por semana, mas ele argumentou sobre o francês ser um bilionário, de como rasgava dinheiro. O pagamento, perto do valor da peça restaurada no mercado, era troco. “Agora nossa vida vai engrenar”, disse.