O zero impera
A casa cala,
cai o silêncio.
Fantasmagóricos,
ecos de melhores tempos dançam em meus ouvidos.
Me desliza pelos nervos um chocalho,
um choro de joelho esfolado no batente,
Toda aquela ladainha de permissões e argumentos.
A borda áspera dos anos me rasga os dedos,
cada virada um flagelo.
Agora só um vão permanece.
Um mundo cheio de lugares sem uso,
pois a solidão é bicho de um só assento.
A vida foi-se porta a fora.
Junto, levou-me as cordas dos músculos.
Levou-me o firme das mãos,
a cor dos cabelos
e toda sorte de bençãos.
Deixou-me um escuro nos olhos,
E aquele cheiro de guardado
quase sepulcral.
Há marcas no meu umbral,
Mas dessas linhas,
hoje,
todas as somas são nulas.
A estridência das sirenes
e um choro de desconhecidos
escamoteiam a verdade final:
Não há número a dar aviso.
O zero impera.